Conteúdos que nos ajudam a pensar, pensamentos que nos ajudam a fazer

Juliana Machado
4 min readOct 24, 2020

Não vou perder o seu tempo falando, DE NOVO, que consumir conteúdo não é o suficiente para aprender. Estou chamando de “consumir” todos aqueles procedimentos que não passam da base da pirâmide Bloom.

Se você está se deparando com algo que precisa apenas lembrar, você está fazendo o trabalho de um gravador ou de um papagaio (desculpa, mas é verdade).

Se você precisa conectar este conteúdo com outros, já caminhamos para a compreensão, mas ainda é um ponto em que o aprendizado fica muito parecido com o que já existe por ai (quantas conexões estão sendo feitas no mundo hyperlinkado?).

Se você aplica o que aprendeu já começa a fazer diferença no mundo, outros comportamentos, outras escolhas, outras consequências, não?

Analisando as coisas que aprendeu, você ganha um degrau de complexidade no teu aprendizado, gerando insights, detectando padrões, percebendo manobras culturais que governam a tua vida… Com isso já dá para debater com base em evidências um ponto de vista que contempla mais do que o teu próprio universo, ampliando o repertório para algo mais potentes quando colocado em ação.

Quando você passa a avaliar os conteúdos com os quais se depara, você passar a priorizar as coisas nas quais vai investir o teu tempo…Do modo como eu vejo, este é um hack que exponencializa a vida: usar nossos preciosos e escassos minutos apenas em coisas que tenham valor para a gente.

Ai, você pode passar a criar…e inventar o mundo em que você quer viver.

“Lindo, mas o que eu faço com isso?” — todo mundo

Tudo isso foi para dizer que, felizmente, quando estamos aprendendo, podemos lançar mão de materiais que nos convidem a níveis mais profundos de trabalho mental. Como o próprio nome já diz, são coisas que dão trampo para serem processadas, mas que, no final, fortalecem a nossa musculatura cognitiva.

Por exemplo: eu posso ler um livro, ou fazer uma leitura ativa deste livro. Qual é a diferença: quando eu leio eu passo os olhos nas palavras, entendo a cadeia de significados, testemunho aquele universo conforme progrido e, então, finalizo. Ponto. Uma leitura ativa requer uma pesquisa a respeito da mensagem contida em cada parágrafo, um grifo cirúrgico na parte que vai sintetizá-la e uma nota de margem que colete os insights que tive ao longo da leitura. Trabalhoso, sem dúvida, mas o que resulta de cada um dos processos é proporcionalmente robusto.

Outro exemplo: eu posso estudar lendo os textos, vendo os vídeos e ouvindo os podcasts, mas eu posso usar uma técnica de estudos que me ajuda a sistematizar o saber contido no ler, ver e ouvir.

Indico para vocês o método Robinson ou EPL2R (explorar, perguntar, ler, recitar e revisar). Primeiro eu exploro aquele material (olho o design, o formato, a duração, a edição) em busca de pistas que me ajudem a contextualizar a sua produção. Depois eu faço perguntas a respeito do que aquele material tem para me oferecer e construo uma linha mestra, com as minhas hipóteses abertas à confirmação ou refutação. Então eu leio (ouço, escuto) com todas essas hipóteses servindo de parâmetro para as minhas descobertas.

Uma das minhas descobertas mais preciosas foi coma Milena Madeira: o Backward Design (design reverso) que cria trilhas de aprendizado começando pelo fim. Isso mesmo, as trilhas começam pelo resultado que se quer ter com elas, ou seja com uma evidência de aprendizagem que possa ser medida.

Então, se eu quero coletar a uma melhoria de performance, preciso saber qual é a performance que eu quero melhorar e qual o fato que vai me revelar esta melhoria.

Ex: Se minha intenção é promover a análise de dados para tomar decisões, eu saberei que a pessoa aprendeu quando ela tomar uma decisão baseada em dados (Oh, really?). Para isso, uma das coisas que vou fazer é desenhar uma iniciativa de intervenção na aprendizagem que apoie essa pessoa a fazer exatamente isso. Posso, por exemplo, provocar o seu pensamento para perceber o que está além da superfície das respostas de um formulário de feedback. Para isso, posso fazer perguntas como: Qual é a explicação que você dá para estes resultados? O que você leu que corrobora com a sua explicação? O que não ficou bem explicado? Quais questionamentos a tua explicação levanta? Veja que estas são perguntas generativas, que provocam o pensamento no sentido desejado, que convidam a uma análise profunda do assunto em questão.

Neste caso:

Atividade: Resultado de um conjunto de formulários de feedback

Objetivo de aprendizagem: perceber o que está além da superfície de um resultado consolidado

Evidência de aprendizagem: as respostas às perguntas generativas.

Por conta do design que eu fiz, eu SEI que estas respostas fortalecem o aprendiz na tarefa de tomar decisões com base em dados.

Faz sentido isso para você, pessoa linda que leu este texto? :-)

Eu vou AMAR saber o que você achou. Deixa um comentário aqui para mim?

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Juliana Machado

educadora psicanalista arquiteta curiosa interessada em redes sistemas e hacks + acreditadora de futuros desejáveis